Clipping - GZH - Abertura de empresas de sociedade limitada cresce 7,6% no primeiro semestre no RS

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Menos burocracia e estabilidade econômica estão entre os principais fatores que ajudam a explicar essa alta, segundo especialistas. Para os próximos meses, continuidade da aceleração depende da dinâmica da reconstrução do Estado após enchente

A abertura de empresas de sociedade limitada avançou neste ano no Rio Grande do Sul. O registro de negócios deste tipo cresceu 7,6% no primeiro semestre ante o mesmo período de 2023. Além disso, o total de novos empreendimentos nessa categoria, conhecida como LTDA, é o maior nesse recorte de tempo na série histórica, que concentra informações desde 2003. O dado é da Junta Comercial, Industrial e Serviços do Rio Grande do Sul (JucisRS).

O aumento ocorre mesmo com a queda observada em maio, mês com impacto cheio da inundação. Maior agilidade em processos para abertura de negócios de baixo risco e estabilidade econômica estão entre os principais fatores que ajudam a explicar essa alta, segundo especialistas. Para os próximos meses, projeta-se continuidade de aceleração, mas este resultado depende da dinâmica da reconstrução do Estado.

De janeiro a junho, foram constituídas 22.492 novas empresas sob regime de LTDA no Estado. No mesmo período do ano passado, foram abertas 20.891 — ?1.601? a menos.

A série histórica da Junta Comercial retrata que esse avanço repete a escalada observada nos últimos anos. O salto de 2024 ocorre em patamar acima do observado no total de empresas no Estado no período (2,4%). Também é maior do que o verificado nos microempreendedores individuais (MEIs), que representa o maior número de empresas dentro do geral e anotou crescimento de 2%.

A presidente da JucisRS, Lauren Momback, afirma que a evolução na abertura das sociedades limitadas é uma resposta a um conjunto de fatores, como extinção de modelo de negócios, melhoria econômica ante anos anteriores e agilidade em processos. Entra nesse rol de desburocratização o Tudo Fácil Empresas, programa que facilita as etapas para abertura de empreendimentos.

— A gente começou a ver esse aumento com a extinção da Eireli e a possibilidade de abrir uma limitada unipessoal. Somado a isso tem a facilidade de abrir uma limitada hoje e questão de políticas públicas, de incentivo, melhoria do mercado de trabalho, da economia, que a gente vê aos poucos melhorando — destaca Lauren.

Ambiente de negócios
O professor Maurício Weiss, do Programa de Mestrado Profissional de Economia (PPECO) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), também cita o peso da melhoria no ambiente econômico nesses números. O docente afirma que o cenário tem sido mais favorável para a abertura de negócios nos últimos anos. Antes, na saída da crise, as MEIs tinham mais protagonismo. Agora, existe uma mudança nesse movimento, segundo o especialista:

— As limitadas, por serem empresas de maior porte, demandam planejamento de investimento e isso só acontece quando há um crescimento mais robusto e expectativas mais consolidadas de crescimento, o que tem ocorrido ao longo de 2023 e expectativas de maior crescimento em 2024.

Com economia menos deprimida, também pode existir um movimento onde MEIs migram para o modelo LTDA, segundo Weiss. No entanto, avalia que essa transformação é mais restrita, porque necessita de um salto mais expressivo do negócio.

O economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, também reforça essa melhora no ambiente de negócios, observada até o início da inundação:

— Nós vínhamos de anos muito ruins, por conta das estiagens, e isso, naturalmente, a partir de uma normalização da safra de grãos, até maio, propiciou um resultado bem significativo que acabou, de alguma forma, sendo transmitido para essa situação de abertura de empresas.

Olhando na outra ponta, as extinções de LTDAS cresceram 12,41% no primeiro semestre. No entanto, o número de fechamentos é menor em números absolutos (10.361), o que garante saldo positivo entre aberturas e fechamentos. No entanto, a presidente da JucisRS afirma que as extinções não são um retrato exato do momento, porque captam movimentos anteriores.

Próximos meses
Com o Estado ainda em ritmo de reconstrução, tentando superar os maiores impactos da enchente, existe uma expectativa sobre o ritmo da economia nos próximos meses. Lauren Momback estima manutenção no avanço da abertura de LTDAs. Ela calça essa projeção nas medidas de socorro, que visam bancar a retomada em solo gaúcho e a manutenção de negócios importantes para a atividade e para a geração de novas companhias:

— Acho que vai continuar esse aumento, porque tem muitos incentivos e linhas de crédito, tanto do governo estadual quanto federal. Então, acredito que vai continuar esse aumento de aberturas.

O professor de economia da UFRGS também afirma que a entrada de recursos do governo federal e do próprio governo estadual, que está conseguindo investir e financiar empresas e auxiliar a população, oferece condições para continuidade das aberturas de empresas. No entanto, cita que existe uma força no radar:

— Essa voluptuosa entrada de recursos gera demanda e com isso atividade econômica. O problema maior vai ser a questão da recuperação da infraestrutura.

O economista-chefe da CDL avalia que existem dois cenários. O mais pessimista para a economia pode ocorrer caso o Estado não receba a ajuda necessária do governo federal. O mais otimista, com aceleração da atividade, depende desses repasses mais robustos, segundo o especialista.

Frank comenta que vale observar com atenção o movimento dos MEIs. Eventual salto mais expressivo dessa categoria pode indicar o avanço de um empreendedorismo por necessidade, onde pessoas sem emprego buscam manter a formalidade.

O que são LTDAs?
A empresa de sociedade limitada é a empresa composta por uma ou mais pessoas, físicas ou jurídicas.

O capital é dividido em cotas de valor igual ou desigual e a administração pode ser exercida por sócio ou não-sócio, devidamente nomeados.

No Estado, a Junta Comercial gerencia os processos envolvendo sociedade limitada, como constituição, alterações contratuais e extinção.

Fonte: GZH