Clipping - O Tempo - Casamento para todos os gostos e estilos

De casais que desejam uma cerimônia pomposa até aqueles que só querem morar juntos, o conceito de matrimônio não saiu de moda e está cada vez mais múltiplo

É verdade que os brasileiros têm se casado cada vez menos e que, após a troca de alianças, a união civil vem se revelando menos duradoura. Mesmo assim, é fato que o matrimônio continua a causar furor e gerar expectativas – por vezes, díspares. Para uns, estamos falando do evento que representa o sonho de uma vida. Para outros, contudo, a cerimônia está mais para um pesadelo, o fardo de uma cobrança antiquada.

A auxiliar de cozinha Ana Caroline Almeida da Silva, 27, é do time que acredita no casamento como um pilar mais sólido para a construção de uma família, ainda que critique quem muito exagera e gaste demasiadamente com a celebração. Casado há 23 anos, o supervisor de estacionamento Mauro Jorge Ferreira Braz, 51, vê no matrimônio um inalienável valor religioso. Para ele, este é um momento único de consagração do amor. Na contramão dessa lógica “casamenteira”, a servidora pública Rita Bambirra, 65, tem a convicção de que, muitas vezes, casar-se significa apenas cumprir protocolos sociais um tanto quanto dispensáveis – e, geralmente, onerosos.

As opiniões, tão distintas umas das outras, foram colhidas pela reportagem em uma ronda rápida em uma praça da área central de Belo Horizonte. Um mosaico de leituras que indica como o casamento, antes algo tão padronizado, se tornou um assunto múltiplo. Fenômeno que, na interpretação da psicóloga clínica Leni de Oliveira, é indício de que estamos vivendo um momento de profunda transição.

“Em nossa sociedade, para além do valor religioso, o matrimônio simboliza o sucesso e, por isso, é carregado de muitas expectativas, que são de muitas pessoas, não apenas do casal. É uma história antiga que ainda permanece, como se encontrar alguém fosse parte de um caminho natural que todos deveríamos seguir”, observa a coordenadora do departamento de relacionamento e casal do Núcleo de Psicologia Seu Lugar. Ela avalia que, nesse sentido, a união civil está relacionada à ideia de complementaridade. “Mas essa é uma noção falsa, que não podemos sustentar com o tempo, pois não é possível abrir mão da própria individualidade para viver como se fôssemos uma só pessoa”, pondera.

Agora, como um contraponto a esse ideal romântico das relações afetivas, ganha força outra interpretação sobre o significado do casamento. “Para começar, muitas pessoas se consideram casadas mesmo sem ter passado por uma cerimônia religiosa. Alguns optam apenas pela certidão civil. Outras, nem isso”, observa a psicóloga. “O advento dessas relações não formalizadas corrobora ao mesmo tempo em que é sinal de uma mudança de perspectiva: em vez de buscar aquela metade da laranja que vai te completar, estamos atrás de uma parceria”, sinaliza.

Números. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de casais que oficializaram sua relação caiu 2,7% na comparação entre 2019 e 2018. Esse percentual representa uma retração de quase 30 mil matrimônios. Nos anos anteriores, a tendência também era de baixa no volume de novas uniões. Entre 2018 e 2017, por exemplo, a queda foi de 1,6%. E a pandemia fez que esses registros encolhessem ainda mais: no Estado de São Paulo, o número de novos casamentos caiu 27% em comparação ao período anterior.

Novos ritos

Empresária à frente da Céu de Arroz, especializada em assessoria de cerimoniais, Mila Xaves, 32, percebe que, hoje, diferentes razões levam pessoas a se casarem. “Não só motivos religiosos ou a oficialização do amor levam as pessoas ao altar. Elas buscam esse momento para materializar a sua história, mesmo que já estejam morando juntos. Além disso, é uma forma de tornar pessoas queridas parte desse enredo, dividindo não só esse momento, mas também todo o seu significado”, opina.

Ela própria, aliás, é exemplo dessa mudança de paradigma. “Eu venho de uma família bem tradicional, para quem é importante passar pelo ritual de casamento. Para mim, o matrimônio é uma referência muito positiva de um formato sólido para a construção de uma família. Mas, diferentemente dos meus pais, não tenho tanto apego às tradições”, comenta, lembrando a história de seu próprio casamento, que não seguiu um roteiro convencional.

Mila recorda ter conhecido seu marido, o fotógrafo Geraldo Bisneto, 38, há uma década. “Eu estava saindo de uma relação longa e, na sequência, fui morar fora. Quando voltei, ele me procurou. Então, engravidei, mas optamos por não morar juntos por causa da gestação. Em vez disso, fomos construindo um vínculo de respeito e parceria. Só quando a nossa filha fez 1 ano é que fomos dividir uma casa nós três. Logo, tivemos a nossa segunda filha. Só mais recentemente, tiramos a certidão de casamento civil e só agora, depois de cinco anos, fizemos a cerimônia, que foi intimista, fugindo do conceito tradicional”, destaca.

A exemplo de suas próprias escolhas, a empresária e atriz sustenta que, muito mais do que cumprir protocolos sociais, há pessoas que buscam se casar por motivos que façam sentido para si. “Não é à toa que tenho notado mais abertura, inclusive em cerimônias religiosas, com padres e pastores permitindo que os noivos alterem o roteiro, mudando até mesmo o texto dos votos”, situa, pontuando que, por exemplo, é comum que, em uniões heterossexuais, as mulheres peçam que sejam retirados trechos que sugerem que o matrimônio significará a submissão dela em relação ao marido.

Essa maior flexibilidade encantou Izabela Lana, 33. “Eu nunca tive aquele sonho de entrar de branco na igreja, com véu, grinalda e um arranjo de flores. Mas, agora, depois de ver como foi a experiência da Mila, comecei a me organizar e já falei com duas amigas que moram no exterior que, no ano que vem, vamos fazer a cerimônia e as quero presentes”, reconhece, citando que, ao contrário do que diz o senso comum, no caso dela a expectativa do casamento sempre ficou mais a cargo do parceiro, Marco Antônio, 28, com quem está há sete anos.

Cerimônias de casamentos para além do óbvio 

Sabendo que cada casal tem um motivo muito particular para se casar, Mila Xaves garante que há alternativas para todos os gostos, desejos e orçamentos. A pedido de O TEMPO, ela destacou alguns dos formatos mais populares.

Tradicional: É realizada a cerimônia religiosa, com presença de convidados, e, na sequência, todos vão para o local onde acontecem o jantar e a festa de casamento. Ideal para pessoas que desejam realizar um casamento que preserve a tradição.  Para 200 pessoas. Custo médio: R$ 60 mil

Coquetel: O bufê, mais formal, é substituído por drinks e comida no estilo finger food. Uma boa opção para quem deseja realizar cerimônia religiosa e recepção no mesmo local, optando por um cardápio mais enxuto. Para 150 pessoas. Custo médio: R$ 40 mil.

Brunch: O casamento é feito pela manhã, e os noivos recebem os convidados para um brunch, que pode acontecer na casa deles próprios ou em locais especializados em oferecer esse tipo de serviço. Ideal para quem opta por uma recepção menor. Para 35 pessoas. Custo médio: R$ 10 mil

Destination wedding: A cerimônia é realizada em uma fazenda, em uma praia ou em um casarão histórico, por exemplo. Nesse formato, o casamento ocorre em uma cidade próxima ou distante, no próprio país ou no exterior. Normalmente um evento para poucos convidados, a festa tem duração de mais de um dia. Ideal para quem busca uma experiência diferente – para si e para seus convidados.  Para 80 a 100 pessoas. Custo médio: R$ 80 mil.

Piquenique: Uma forma diferente de oferecer a refeição para os convidados é optar pelo piquenique, um momento agradável ao ar livre. É importante que a cerimônia aconteça em uma estação mais amena, como outono ou primavera. Para 15 convidados. Custo médio: R$ 7.000.

Mini wedding: A proposta é realizar um casamento mais intimista, com poucos convidados, o que permite dar atenção a todos e investir em melhores serviços. Ideal para quem não quer gastar muito, mas deseja celebrar a data com pessoas especiais. Para 50 a 120 convidados. Custo médio: R$ 25 mil.

Elopement wedding: A expressão vem da palavra inglesa “elope”, que, em português, pode ser traduzida como “fugir”. Nesse caso, o casal viaja para se casar em uma cerimônia sem convidados. Além dos noivos, participam do evento apenas o celebrante e a equipe de fotografia. Ideal para aqueles que buscam realizar uma celebração íntima. Apenas para o próprio casal e, talvez, pais e irmãos. Custo médio: R$ 5.000.

Fonte: O Tempo. Foto: Casarte/Divulgação