Clipping - Diário do Comércio - Novo Normal: Mercado imobiliário digitaliza-se na pandemia

As mudanças de hábito impostas pela pandemia e a perspectiva de que outras tragédias do mesmo tipo possam acontecer em um curto espaço de tempo, aliada às condições macroeconômicas, especialmente a taxa de juros em níveis moderados para os padrões brasileiros, fez com que o mercado imobiliário se destacasse nos últimos 14 meses. Em um mercado “de confiança”, onde a indicação vale muito, a digitalização representou mais do que a adoção de tecnologia em gestão ou processos. Trouxe também, uma nova mentalidade e, por incrível que pareça, a afirmação de valores tradicionais ao mesmo tempo. O novo normal das imobiliárias é na velocidade do bits e na confiança do fio do bigode. Burocracia dos contratos de aluguel ainda é grande vilã A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) estima que as vendas de imóveis devem crescer cerca de 35% em 2021 sobre 2020. Em 2020, apesar da crise econômica e sanitária decorrente da pandemia, o setor avançou, de acordo com dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), 26% em relação a 2019. Os resultados positivos, porém, não significam – nem de longe – uma vida tranquila para as imobiliárias. O primeiro grande impacto foram as medidas de distanciamento social, que impediam as tradicionais visitas aos imóveis. A isso soma-se a própria digitalização da gestão das empresas, já que, fechados, os escritórios precisavam funcionar de maneira remota. Segundo o CEO da Epar Tecnologia e Gestão – empresa especializada em gestão de contratos imobiliários -, Eduardo Luiz, entre os maiores problemas enfrentados por imobiliárias e inquilinos, está a burocracia dos contratos de aluguel e as divergências durante todo o curso da contratação. As imobiliárias digitais surgiram então como uma resposta às mudanças nos hábitos de consumo do mercado imobiliário. Em contrapartida ao sistema tradicional, na imobiliária digital, o cliente pode encontrar o imóvel que melhor atende sua necessidade de forma mais livre e prática, realizar vistorias sem transtornos e ficar livre de fiadores. “O que estamos chamando de digitalização é tirar as pendências do dia a dia e economizar o tempo que não era dedicado ao negócio. As empresas estavam acostumadas com o modelo tradicional e a pandemia mudou isso. A maioria não estava preparada para o home office, por exemplo. A pandemia acelerou o processo que estava em vias de ser feito, mas que era postergado. As relações imobiliárias hoje são digitais. Não há mais necessidade de uma grande estrutura física. A função da imobiliária não é vender é atender a um sonho. A experiência do cliente conta. A tecnologia tem que tornar o caminho mais fácil. Tratando da burocracia, a Epar deixa a imobiliária livre para fazer o papel dela, que é atender o cliente. É uma mudança de pensamento e, principalmente, de ação”, afirma Eduardo Luiz. Proptechs avançam sobre mercado imobiliário As proptechs – startups do mercado imobiliário que utilizam tecnologias como blockchain, internet das coisas, inteligência artificial, softwares de gestão e drones, entre outras, para oferecer serviços e produtos inovadores ao setor – surfam agora, impulsionadas pelas mudanças impostas pela pandemia – uma onda de crescimento e diversificação já experimentada em um passado recente por fintechs e agrotechs. De acordo com a quinta edição do Mapa das Construtechs e Proptechs,  lançado pela Terracotta Ventures, em abril deste ano, o universo de startups de tecnologias voltadas aos setores de construção e mercado imobiliário cresceu 19,5% em relação a 2020 e 235% se comparado ao primeiro mapeamento, em 2017. São cerca de 839 construtechs e proptechs no Brasil, concentradas, na maioria, em São Paulo (41%), seguido por Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais (11,40%, 10,4% e 8,16% respectivamente). O Mapa demonstrou ainda que, atualmente, 31,8% das construtechs e proptechs brasileiras estão voltadas à jornada de aquisição: 34,6% voltadas a propriedades em uso; 26% destinadas ao ambiente de obra e, por fim, 7,6% são usadas na fase de projetos e viabilidade. O resultado deste ano traz uma novidade, pela primeira vez vemos mais startups trabalhando imóveis já em uso. Isso reforça o fortalecimento de alguns movimentos como as condotechs, tecnologias voltadas ao mercado de condomínios. De acordo com o Managing Partner da Terracotta Ventures, Marcus Anselmo, 2020 foi um ano marcado pelo surgimento e crescimento dessas soluções e de muitos dos players mais tradicionais, impulsionados pela necessidade inerente de aumentar tecnologia devido às novas dinâmicas de trabalho e consumo. “O tipo de tecnologia que está sendo aplicado no setor já havia sido em outros setores. A confiança, muitas vezes, nos remete a falar com alguém que conhece um corretor. É uma confiança não sistêmica. Ninguém pergunta isso sobre um vendedor de uma concessionária de carros. Mais do que implantar tecnologia, as imobiliárias vão ter que criar uma confiança sistêmica. São muitos problemas a serem resolvidos. A captação de imóvel, por exemplo, hoje, é não digital. Não tem um processo estruturado. Já tem algumas proptechs atuando sobre isso. A tecnologia deve estar a serviço do corretor para que ele ofereça uma boa experiência para o cliente”, destaca Anselmo. E é também no sentido da melhor experiência para o cliente que o vice-presidente da área de Corretoras de Imóveis da CMI/Secovi-MG e vice-presidente da rede Netimóveis em Belo Horizonte, Leirson Cunha, aponta o futuro das imobiliárias. “A tecnologia é uma condição básica, mas não é só a digitalização que resolve o problema. É preciso um atendimento humanizado. Hoje o consumidor não precisa mais visitar dezenas de imóveis para fazer a sua escolha, ele seleciona pela internet. Quando ele liga, quer a opinião do profissional. É uma grande oportunidade para o ‘figital’- mistura de físico e digital. As empresas que eram analógicas já tinham algo que as digitais terão que aprender: o trato com o cliente. Comprar uma casa não é simples, é a decisão de uma vida. Um algoritmo não vai dar conta disso. As imobiliárias digitais podem fazer um diagnóstico mais rápido. Sairá melhor quem juntar as duas pontas”, conclui Cunha. Cenário impôs nova rotina à QuintoAndar Ele já nasceu digital e em pouquíssimo tempo se tornou um dos players mais importantes do mercado imobiliário brasileiro. Com uma política agressiva, o QuintoAndar avançou sobre o mercado tradicional e foi às compras, incorporando a Casa Mineira, maior imobiliária de Belo Horizonte, em março. Ainda assim, a empresa não navegou mares calmos ao longo da pandemia e precisou se adaptar. Segundo o COO do QuintoAndar, Thiago Tourinho, a Covid-19 causou medo e impôs uma nova rotina, mesmo sendo a empresa uma nativa digital. “Vimos uma queda de demanda muito grande em março e abril de 2020. Nos adequamos às alterações de comportamento do consumidor. Por já ter um processo on-line e digital estabelecido, a adequação aconteceu rápido e colocamos mais ferramentas à disposição dos clientes e corretores. Nascemos acreditando nesse ponto da confiança e do quão isso é importante no mercado imobiliário. Acreditamos muito na tecnologia para fazer isso. Nos esforçamos para entregar ao consumidor uma confiança através de uma transparência e clareza da informação. Em função do número de transações que realizamos, a transparência vem baseada em dados”, explica Tourinho. Na época da incorporação da Casa Mineira, pouco antes dos primeiros fechamentos de cidades brasileiras, o objetivo declarado do QuintoAndar já era absorver a expertise da imobiliária belo-horizontina no atendimento presencial e a força da marca em vendas. “A união das empresas fortalece a proposta de valor do QuintoAndar com o DNA da Casa Mineira, seu alcance no mercado, expertise e alta qualidade no atendimento a clientes e um dos times de corretores parceiros mais qualificados e efetivos do País”, afirmava o comunicado à imprensa. “O que mais importa é a experiência do cliente. Não advogamos uma experiência digital porque precisa ser digital. A tecnologia tem que facilitar a vida do cliente. Isso exige muito investimento. Este ano estamos investindo mais de R$ 50 milhões só em TI. Isso não significa, necessariamente, que seja mais on-line. O mercado está indo para essa direção da melhor experiência não só no atendimento. É conseguir ser ágil, sem burocracia, oferecer soluções de garantia e de pagamento igualmente simples” pontua o COO do QuintoAndar. Fonte: Diário do Comércio