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Artigo: A realidade da adoção no Brasil - Por Mauro Miaguti

Em 2014, ao lado de grupo de amigos e apoiadores, iniciei trabalho voluntário na Associação Beneficente Cantinho Meimei, localizada no bairro Riacho Grande, em São Bernardo. A casa abriga crianças que foram abandonadas, ou retiradas de suas famílias devido denúncias sobre maus-tratos, por exemplo.

Por meio desse trabalho conheci mais de perto a realidade da adoção em nosso País. Fator que eu desconhecia é que nem todas as crianças que vivem nas casas de acolhimento estão aptas para adoção.

Antes de isso acontecer elas precisam ser destituídas do poder familiar, que incluí avós, tios, primos. E é exatamente essa etapa que pode levar anos.

Para a Justiça brasileira, a primeira e melhor opção é sempre a família de origem, só quando ela é totalmente descartada é que a criança vai para o Cadastro Nacional de Adoções.

Diante disso começamos a entender por que a fila de adoção é tão demorada. Grande parte dos casais que estão na fila de adoção busca por bebês de até 3 anos de idade. Apenas 6,3% aceitam adotar criança com 8 anos ou mais. Quanto mais velha a criança, menores são as suas chances de encontrar família, infelizmente.

Em 2016 o Cadastro Nacional de Adoção registrou 1.226 adoções em todo o País, destas, apenas 13 eram de jovens com idades entre 15 e 17 anos.

Mas você já se perguntou o que acontece com o adolescente que não é adotado? Quando completa 18 anos ele é obrigado a deixar a casa de acolhimento. Imagina o tamanho do desafio que é para um jovem de apenas 18 anos ser obrigado a enfrentar sozinho a realidade da vida, sem o apoio de uma família.

Em 2017 tive acesso a carta de um deles à Promotoria de São Bernardo. Ele pedia auxílio, pois em breve completaria 18 anos e não fazia ideia do que ia acontecer com a sua vida. Tudo o que esse rapaz pedia era ajuda para conseguir emprego e tempo a mais na casa de acolhimento, até que pudesse se estabelecer em segurança.

Ler aquela carta foi um choque e abriu os meus olhos para mais essa dura realidade de nosso País, que precisa ser encarada na busca por soluções.

Muitos desses jovens saem das casas de acolhimento, conseguem emprego, estudam, constituem família. Mas outros, infelizmente, acabam seduzidos pelo mundo do crime, entrando em caminho quase sempre sem volta.

Não podemos virar as costas para essa realidade. Não podemos mais perder nossos jovens para o crime. A sociedade precisa se organizar e cobrar ações no sentido de preparar esses jovens para a vida.

* Mauro Miaguti é empresário, vereador por São Bernardo e vice-diretor do Ciesp São Bernardo.


Fonte:
Diário do Grande ABC