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Artigo: O mercado se questiona: Será o fim dos prédios comerciais? Por Wanderson Leite

A pandemia do novo coronavírus já dura tempo suficiente para criar novos hábitos. Uma das teorias mais respeitadas sobre o assunto, a do psicólogo inglês Jeremy Dean, aponta que levam 66 dias para alguém começar a fazer algo que antes não era costume. Da mesma forma que, no início de março, o mundo alertava para a criação de um “novo normal”, hoje sabemos que, assim que tivermos a maioria da população imunizada, precisaremos reestabelecer um novo padrão de normalidade. Tudo isso envolve as mais diversas áreas de uma sociedade, passando pelo impacto nas gerações em termos comportamentais, educativos e de desenvolvimento – mas hoje, quero propor uma discussão sobre os efeitos da pandemia no mercado imobiliário e na construção civil. Junho foi o pior mês para o mercado corporativo paulistano em 2020, até agora. São Paulo teve mais áreas de edifícios corporativos classe A devolvidas do que alugadas, uma diferença de 10,1 mil m², de acordo com levantamento da consultoria imobiliária Cushman & Wakefield. Isso é resultado do quanto o home office vem funcionando para as empresas, diminuindo a necessidade de espaços comerciais. Se antes, grandes escritórios em áreas bem localizadas eram sinônimo de pompa e status, hoje, novos hábitos foram moldando nossas relações e percepções da realidade. Reuniões presenciais longas e estimuladas por muitos cafezinhos deram vez a salas virtuais que priorizam a objetividade. Nós vamos mudando os hábitos e sendo mudados por eles. Será o fim dos prédios comerciais? Primeiro, é importante entender o porquê dessas devoluções. A maioria delas foi motivada por questões financeiras, o que pode ser resolvido com conversas e renegociações. Quem tem um imóvel alugado precisa priorizar o bom sendo nesse momento: se aquele inquilino sempre pagou em dia, não vale pensar em algum tipo de desconto ou prorrogação do prazo de pagamento? Agora, se o motivo foi porque ele entendeu que não faz mais sentido alugar aquele imóvel, é hora de repensar o que as empresas estão procurando. Sempre haverá alguém interessado no que você tem a oferecer, mas pensar em novos modelos de locação pode garantir seu fôlego no caso de meses sem procura. Algumas opções são a sublocação ou a criação de espaços de coworking. Redes de hotéis já deram o primeiro passo para se reinventar, criando a modalidade de room office, que transformou os quartos em escritórios e flexibilizou o período de aluguel em dias, semanas ou meses. Isso é entender a necessidade do cliente e se adaptar a ela. Essa opção mais maleável é interessante porque não necessariamente uma empresa atende clientes ou precisa estar no escritório todos os dias. O importante é saber se adaptar a qualquer momento. Além de observar a mudança de hábitos acontecer, a pandemia traz uma oportunidade para redesenhar a cidade de forma a atender os interesses da população. Historicamente, grandes centros foram construídos para os carros e as empresas. Inverter essa lógica para a de ambientes mais espaçosos e áreas abertas, mais adequados à pandemia, não é fácil, especialmente em regiões já consolidadas. Os novos centros vão ter essa facilidade. , Quem trabalha em home office não vai se preocupar em morar perto do trabalho. O mesmo acontece em relação aos supermercados, para quem pede comida pela internet, ou faculdades, para quem estuda online. Antes, as pessoas davam mais valor à proximidade do que ao conforto, mas essa lógica está prestes a se inverter. Ainda é difícil afirmar com certeza o que será da construção civil a longo prazo. Nada se perde, tudo se transforma e é importante estar atento às mudanças. O erro está em apostar no que já é conhecido. Em relação os escritórios comerciais, acredito que a tendência é apostar em espaços menores, mantendo boa parte das equipes em casa. Ainda assim, muitas empresas irão priorizar o tempo de casa e a consolidação em determinada região. É estratégico para elas e esse perfil de cliente também encontra opções disponíveis no mercado. Teremos muitas lições a aprender pela frente. É preciso estar antenado e não ter medo de inovar!
Fonte: Jornal Contábil